O ano de 2021 ficará marcado pelos excepcionais volumes demandados de produtos químicos de uso industrial no mercado brasileiro. A demanda interna, medida pelo consumo aparente nacional (CAN) – produção mais importação menos exportação -, cresceu 20,5% entre 2020 e 2021, alcançando o melhor resultado na série histórica desde 1990. Porém, oportunidades que poderiam ter sido convertidas em investimento, gerando valor e renda para o Brasil, não foram aproveitadas, e as importações acabaram por se beneficiar dessa alta, passando a ocupar 46% de todo o mercado interno no ano passado, contra 7% no início dos anos 1990. Nesse período, o déficit cresceu cerca de US$ 1,5 bilhão em 1990 para o recorde de US$ 46 bilhões em 2021.
Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, a falta de competitividade e a consequente descontinuidade de diversas linhas de produção nos últimos anos justificam o nível elevado de penetração das importações sobre a demanda e o desempenho atípico da produção e do uso da capacidade instalada.
O índice de vendas internas recuou 0,47% em 2021, se ressentindo das fortes pressões de custos internos do ano passado, associadas às matérias-primas básicas do setor, como o gás natural, que alcançou níveis muito altos no segundo semestre de 2021, e a energia elétrica, além dos custos mais elevados da logística nacional e internacional. O índice de produção subiu 5,04%, e a capacidade instalada encerrou 2021 com média de 72%, mesmo patamar registrado no ano anterior, mantendo a ociosidade em um nível elevado e preocupante para os padrões de operação em processo contínuo do setor químico. O índice de preços no mercado interno subiu 62,25% acompanhando as oscilações no mercado internacional.
Para a diretora da Abiquim, a química possui papel relevante na indústria nacional, sendo geradora de empregos de qualidade e bem remunerados e propulsora de uma longa cadeia na economia. “Olhando para o futuro, com o aumento da produção de óleo e gás no Brasil, a indústria química tem o potencial de se tornar ainda mais importante, especialmente pelo seu papel fundamental e estratégico também para a cadeia de refino. Muitos países desenvolvidos, com disponibilidade de óleo e de gás, buscam a química para agregar valor aos seus recursos naturais, mitigando riscos inerentes às modificações no mercado de combustíveis”, afirma Fátima.
Ela lembra que o pré-sal tem um potencial de produção enorme, e parte dessa riqueza é da União. “Cabe uma decisão muito importante ao governo brasileiro que é a de definir entre ser exportador de commodities ou de bens acabados, que trazem muito mais valor ao País. Não só isso, também são urgentes a reforma tributária, a reforma administrativa, a solução de deficiências logísticas e outras, que têm como objetivo a redução do custo Brasil e a eliminação das distorções que impõem custos ao país que não são compatíveis com os que se praticam no mercado internacional”, alerta a executiva.